O Lollapalooza desse ano aconteceu nesse final de semana, mas fui
somente no sábado, dia 28/03, porque reunia mais artistas que gosto, dos quais
não tinha visto ao vivo e estavam na lista dos mais desejados.
Fui pro Autódromo de Interlagos de metrô e trem, pois acho a forma mais
fácil e barata de chegar ao local. A previsão de chuva pra sábado não se
confirmou e o dia que começou nublado deu lugar a um sol agradável no meio da
tarde, terminando com uma noite fresca. Marquei com duas amigas de nos encontrarmos lá, mas
encontrei somente uma.
Muita gente e vários palcos num espaço gigantesco
dificulta o encontro, ainda que prefira a realização do festival no Autódromo
de Interlagos e da forma como os palcos ficam dispostos, do que no Joquei Clube
onde foi realizada a primeira edição, mesmo que a distância entre os palcos no
Autódromo exija uma boa caminhada.
Uma das coisas mais legais é que a disposição da pista permite visão
ótima de dois dos três palcos principais, mesmo estando distante deles e ainda
é possível sentar e descansar na grama depois de caminhadas e intervalos entre
os shows.
O Chef´s Stage, criado ano passado, com culinária variada de chefs
renomados permaneceu e acho uma ótima sacada. Por preços bons é possível comer
comida de qualidade em relação a outros quiosques que vendem pizzas,
hambúrgueres e pipoca por preço absurdo. Dessa vez, escolhi o baião de dois do
chef Rodrigo Oliveira, do restaurante Mocotó e estava muito bom.
Outro fator importante e prático é a compra pela internet de fichas para
comida e bebida. Não peguei fila para retirar as fichas e o sistema era prático
e rápido, enquanto muita gente encarou fila para comprar tais fichas e só depois podia retirá-las.
Uma surpresa que não conhecia era uma van dos Correios que levava o público de um palco pra outro, reduzindo o tempo de caminhada de 20 minutos para 3 minutos. Pouca divulgação do serviço gratuito, tanto que chegaram três vans no mesmo momento depois do show do Kasabian e embarcamos na primeira e não tinha público, naquele momento, para lotar as demais.
Agora vou falar deles, o mais importante em um festival voltado pra
música, os shows.
O primeiro que assisti foi Boogarins, banda roqueira da agradável Goiânia.
Pois é, essa capital não é berço só artistas de sertanejo e o Boogarins é uma
das melhores bandas nacionais da atualidade. Com apenas um ótimo disco lançado, "As plantas que curam", já excursionaram pelo exterior, mas
ainda são pouco conhecidos por aqui. Vi a banda no palco pela primeira vez na
abertura do show do Franz Ferdinand em setembro e fiquei muito feliz com a
escalação deles no festival, que deveria manter a proposta mais alternativa,
levando bons artistas que ainda estão despontando no cenário musical nacional
ou internacional.
A apresentação no sábado foi ainda melhor e foi ótimo assistir ao desfile psicodélico muito bem tocado pelos integrantes e a atmosfera viajante das jams que se estendiam no set, agradando bastante os fãs que estavam próximos ao palco e ainda quem não os conhecia, mas parou para assistir.
A apresentação no sábado foi ainda melhor e foi ótimo assistir ao desfile psicodélico muito bem tocado pelos integrantes e a atmosfera viajante das jams que se estendiam no set, agradando bastante os fãs que estavam próximos ao palco e ainda quem não os conhecia, mas parou para assistir.
Depois deles, segui para o palco mais próximo onde a banda inglesa Alt-J
se apresentava. Conheço bem pouco, mas fui atrás dos discos para ter ideia sobre
o som da banda e não cair de paraquedas. Em disco achei legal, mas não gostei
do som ao vivo. Alternativo com folk rock parado e com músicas muito parecidas
que serviu para eu descansar as pernas e partir pro almoço.
Dali fui para o palco de outros ingleses, o Kasabian, de Leicester.
Gosto bastante da banda que é uma das mais interessantes da safra anos 2000 e
já vi alguns shows deles pela internet. Apostei na apresentação
dos caras e valeu muito a pena. As músicas escolhidas prestigiaram vários
discos da banda, que também passeia pelo eletrônico, sem perder a essência do
rock no som.
Uma hora e quinze minutos de agitação do início ao fim, interação
entre plateia e banda, desfile de ótimas pérolas como "Underdog", "Empire", L.S.F
(Lost Souls Forever) introduzida com trecho de "Praise You" de Fatboy Slim e "Fire" (foi tema de abertura da Premier League até a
temporada passada - primeira divisão do Campeonato Inglês de futebol - uma das
melhores e mais importantes do mundo), as duas últimas tocadas na parte final
do show deixando a galera com gosto de quero mais.
Ao final do show do Kasabian tive que correr pro palco onde acabara de
começar Robert Plant and the Sensational Space Shifters. O eterno líder do Led
Zeppelin fez um show muito bom, misturando clássicos do rock como "Black Dog", "Whole Lotta Love" e "Rock n´Roll", com arranjos diferentes e algumas versões mais
extensas. “Going to California”, balada maravilhosa do Led foi um dos momentos
mais lindos não só do show dele, mas do festival. Mas não tem só Led na lista
de músicas.
A outra parte do show fica reservada à carreira solo do cantor e é onde
reside as maiores influências musicais distintas, como a africana e a oriental.
Grande show de um cantor que ainda tem uma bela voz, mas sabe fazer uso dela
sem abusar de tons altos não mais alcançados, ícone da história do rock
acompanhado de músicos talentosíssimos, o que beira o óbvio pra quem esteve à
frente de uma lenda da música que tinha o baterista, o baixista e o guitarrista
mais respeitados e que são referência para quem pensa em montar uma banda de
rock.
Agora o grand finale, diante de um dos palcos em que eu mais queria
estar nos últimos tempos: Jack White. Pupilo de Robert Plant, por quem foi
mencionado duas vezes durante o show do ídolo, o multiinstrumentista de Detroit, dono de
gravadora, amante da música, criador da canção que é entoada em estádios de
futebol mundo afora, subiu ao palco com uma banda excelente e entrosada,
visivelmente comandada pelo cantor.
A entrada no palco e a música de abertura "Icky Thump"
denunciam o som alto que sairia das caixas de som nas próximas quase duas horas
do que não seria um simples show de rock.
White é um dos melhores guitarristas de sua geração, formou dupla com
Meg White no White Stripes, integrou Dead Weather e Raconteurs e partiu em
carreira solo lançando dois ótimos álbuns, Blunderbuss (2012) e Lazzaretto
(2014), em que conseguiu imprimir identidade e experimentações que remetem aos
trabalhos anteriores, mas que mostram um crescendo em qualidade e criatividade.
Ao vivo, as músicas ficam ainda melhores do que em disco, principalmente
as do White Stripes.
De todos os trabalhos anteriores, apenas músicas do “The Dead Weather”
ficaram de fora do show. Para alegria de muitos e da pessoa que vos escreve,
"Ball and Biscuit" e "Dead Lives and the Dirty Ground" dos
Stripes foram tocadas, assim como a melhor dos Raconteurs, "Steady as She
Goes", ótima em disco e excelente ao vivo.
As músicas da carreira solo se destacam na apresentação e canções de
"Lazzaretto" como "Would You Fight For My Love",
"Three Women" e a instrumental "High Ball Stepper" casam
perfeitamente com a estética linda do palco com projeções de luzes azuis.
As influências setentistas, do blues, do country e as roupagens mais
modernas, com metais e sintetizadores estiveram presente em todo show. E "Seven
Nation Army", maior hit do White Stripes e uma das músicas mais famosas
dos anos 2000, entoada pelo Ôôôôôô característico e famoso em arquibancadas de
jogos de futebol ao redor do mundo até hoje, marcou o final de uma apresentação
impecável e inesquecível.
No domingo, assisti pela tv, porque vou a festival se tiver um número
considerável de bandas que gosto muito ou ainda não tenha visto e apenas uma
delas estava escalada pro dia 29/03. Os novaiorquinos do Interpol fizeram um
show ótimo, com set list lindo.
Tocaram a minha música favorita deles,
"Leif Erikson" de "Turn on the Bright Lights", primeiro e
melhor disco da banda, do qual ainda vieram "PDA", "NYC",
"Say Hello to the Angels" e “The New"; a climática e bela
"Rest my Chemistry", melhor música de "Our Love to Admire";
do mais recente e bom disco "El Pintor" foram tocadas
"Anywhere", "Everything is Wrong" e "All the Rage Back
Home" e fecharam com "Slow Hands", do segundo e ótimo
"Antics" que havia aparecido antes com "Not Even Jail",
"Narc" e "Evil". Um ponto negativo da apresentação foi a
voz de Paul Banks mais alta do que as guitarras na parte inicial, mas
contornada depois da quinta música.
Pitty e Smashing Pumpkins fizeram bons shows, tocando rock de verdade,
que é o que mais me agrada fora e em cima do palco. A primeira, com presença de
palco cada vez melhor e acompanhada de uma banda competente, mesclando músicas
do mais recente disco e outras que já viraram hits do rock nacional. A segunda,
com apenas Billy Corgan, líder-vocalista-guitarrista, da formação original e
responsável por embalar a minha adolescência nos anos 90 com ótimas canções bem
executadas ao vivo.
O pop, o eletrônico e bandas intituladas de rock, mas que não fazem som
algum com guitarra e bateria, tão parecidas entre si, dominaram os palcos de
domingo. Em relação aos shows de sábado e por uma das melhores apresentações
que já assisti (Jack White), o saldo foi muito bom.
Espero sempre que o melhor
show ainda esteja por vir e que o Lolla do ano que vem resgate algo mais
alternativo - deslocado e sem espaço - e mais roqueiro, o que parece meio impossível em se tratando de
festivais de grande porte não apenas por aqui, com menos artistas pop e DJs, sobretudo os últimos que já têm espaços
reservados em tendas próprias dentro dos festivais.
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