Pular para o conteúdo principal

O cockney e o afegão

Andando pela Oxford Street, entro em uma loja para comprar lembranças para amigos e parentes. O  atendente pergunta de onde eu sou. Respondo que sou brasileira, de São Paulo e começamos a conversar. Ele diz que acha muito diferente o português falado em Portugal e o nosso que, para ele, é mais bonito. Eu concordo com o fato de o nosso português soar mais bonito, mas digo que não vejo diferença entre os dois como se fossem idiomas distintos, mas apenas diferentes no sotaque, como o inglês britânico e o americano.

Oxford Street
  Ele me diz então que é do Leste da cidade e que fala uma espécie de dialeto chamado Cockney. Já havia escutado sobre o dialeto, mas foi naquela conversa que entendi um pouco o que era o “falar” Cockney. Conversamos sobre a vida em Londres, no Brasil e ele pergunta com o que eu trabalho. Respondo que sou advogada e futura jornalista. Ele acha fantástica a possibilidade de alguém ter duas profissões, mas diz que advogado tem mais respeito da sociedade e ganha melhor. Aí eu penso: até aqui? E acrescento que a advocacia deve ser uma das profissões mais estressantes na Inglaterra, no Brasil e no resto do mundo. E rimos!

Antes de ir embora, um homem da loja vizinha se aproxima e diz que eu sou uma cliente especial. Então pergunto se ele também é inglês e começo uma conversa para treinar o idioma. A resposta dele é “sou do Afeganistão, mas moro aqui há muitos anos”. Interesso-me por conversar com alguém daquele país e não há como me desvencilhar da ideia de como um afegão vive na Inglaterra - mesmo que sejam muitos imigrantes aqui - já que este país continua apoiando os Estados Unidos em suas investidas criminosas no país dele.

Fico feliz em saber que não é mais um europeu e digo que desejo viver em Londres um dia. Ele então me diz: “não tente, não tente”. Não me contenho e pergunto por qual razão ele não recomenda a mudança já que vive há anos na cidade, mas ele não tem resposta e cala-se se virando para a rua. Não insisto e agradeço a atenção deles por terem conversado comigo e me despeço. Ambos sorriem e dizem tchau em português e algo como besos.

Selfridges, incrível loja de departamentos, à esquerda, na Oxford Street

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Definitivamente talvez

Meu Definitely Maybe, original em CD O título do texto é o nome do álbum de estreia do Oasis, lançado há vinte anos, em agosto de 1994. Vi o Oasis pela primeira vez no extinto programa da TV Gazeta, Clip Trip, ao qual assistia sempre para acompanhar os meus artistas favoritos. Lembro do apresentador falando sobre o Oasis, antes de passar o vídeo de Supersonic, primeiro single do disco. Ele disse mais ou menos assim "esses caras estão fazendo barulho na Inglaterra e se dizem melhores que os Beatles. Sei não, vamos ver se é tudo isso e se o sucesso vai durar". O comparativo com os Beatles era mais uma das polêmicas que os irmãos Noel e Liam Gallagher criaram e estenderam durante toda a carreira da banda. Na verdade, a influência mais clara e até o modo como se vestiam, remetia à banda de Liverpool. Mas jamais foram cópia dos Beatles, o que muitos odiadores costumam dizer.  Aceitar isso é o mesmo que reduzir o talento do Oasis, um dos últimos representantes do rock,
O coração de Londres Trafalgar Square é passagem obrigatória para visitar marcos londrinos e é repleta de atrações, dentre elas a National Gallery. Poder se deparar com obras de Van Gogh, Monet, Boticelli, Da Vinci, de graça, num espaço que recebe cada visitante com lírios inebriantes na entrada, é umas das maiores riquezas que uma viagem pode nos oferecer. National Gallery Esculturas, chafariz, eu e National Gallery em Trafalgar Square Como gosto muito de visitar igrejas, seja pela arquitetura, pela história, além de poder agradecer por estar em Londres novamente, a Saint Martin in the Fields é o lugar certo para isso em Trafalgar, onde ainda posso almoçar na cripta muito aconchegante e nada sombria, onde tomaria uma sopa de brócolis apimentada que foi a escolha certeira para o frio.  Cripta da igreja, onde é servido almoço e café Fachada da Igreja Saint Martin-in-the-fields Uma das coisas que me chama a atenção é a quantidade de mendigos num estado de let

Londres em 5 músicas

Grandes capitais mundiais recebem homenagens em canções. Nova Iorque foi tema de inúmeras músicas, mas New York, New York, imortalizada na voz de Frank Sinatra, é a canção definitiva da Big Apple, cantada por nova-iorquinos e estrangeiros, inclusive na virada de ano na Times Square.   Berço de vários artistas - do punk, do progressivo ou do eletrônico, capital mundial do pop - Londres também é homenageada em diversas músicas. Ao contrário de Nova Iorque, talvez, não tenha uma canção que a defina, que seja a mais famosa e que possa ter, ao menos, um verso cantado por qualquer pessoa mundo afora. E muitos artistas lendários do rock e do pop dedicaram um pedaço de suas obras à capital britânica ou, como diz o poeta, cidade que alguém só se cansa, quando está cansado da vida.  Como relaciono música a vários momentos, coisas e pessoas, fiz uma lista com base em minha imagem sobre a cidade do meu coração ou a lembrança mais significativa que tenho dela ao escutar essas músicas.